Brasileiro bate recorde por ficar 75 anos na mesma empresa
Aos 90 anos, o catarinense Walter Orthmann só tem um registro
em sua carteira de trabalho: desde os 15, ele nunca mudou de empresa
nem parou de trabalhar. Na semana passada, recebeu o título de
funcionário com o maior tempo de registro trabalhista em uma só empresa,
pelo ‘RankBrasil’, o livro dos recordes brasileiro. Agora, seus colegas
planejam reivindicar o mesmo registro no ‘Guinness’.
Leia partes do depoimento de Walter Orthmann à Folha:
Hoje (dia 23) estou em São Paulo. Na
segunda vou para o Rio e, depois do Carnaval, fico três semanas no
Nordeste. Viajo um terço do ano, como gerente de vendas, uma mala de
amostras na mão e a minha, de roupas, na outra. Preciso visitar meus
clientes.
Já estou com 90 anos. Na semana
passada, quebrei meu próprio recorde pelo maior tempo de trabalho em uma
única empresa: 75 anos. Nunca pensei em parar.
Quando comecei, em 17 de janeiro de
1938, o meu salário era em réis. Desde então, já passei por oito moedas
diferentes. Na minha carteira, o meu salário é na casa dos milhões.
Hoje, não vale nada (ri).
História
Walter Orthmann tinha 15 anos quando foi com a mãe pedir um emprego
na RenauxView (ex-Indústrias Têxteis Renaux). “Batemos na porta e, em
seguida, um diretor nos atendeu e disse que eu poderia começar na
segunda”.
O primeiro cargo foi como auxiliar de
expedição. No período da noite, o então adolescente, estudava
datilografia. Depois passou a trabalhar como office-boy. “Naquela época
tudo era feito em dinheiro vivo, que buscava para pagar aos operários. Ia com minha própria bicicleta até o banco”, disse.
Em seguida foi para a área de faturamento. “Quando comecei, fazia tudo a mão. Não tinha máquina de calcular”.
Walter conta que em 1955, o diretor o
chamou e disse que ele deveria viajar e conhecer clientes. “Na minha
primeira viagem, fechei uma venda para as Casas Pernambucanas que fez a
tecelagem trabalhar por um mês inteiro. Não parei mais de viajar”.
No início as viagens eram de ônibus,
depois, com o avião, passou a percorrer o Norte e o Nordeste. “Ia de
Porto Alegre a Manaus. Ainda hoje, o Nordeste é inteirinho meu”.
“A empresa tem clientes mais antigos que
me acompanharam e fazem questão de serem atendidos por mim. Em muitos
lugares, já estou na terceira geração. Comecei a negociar com o pai,
depois com o filho e hoje o neto”.
Gerações
Walter tem oito filhos, cinco do
primeiro casamento e três do segundo. “Casei de novo aos 58 anos, com
uma moça de 27. Meu filho mais novo, Marcelo, nasceu quando eu tinha 71
anos. Hoje ele tem 19 e começou a fazer estágio na mesma empresa em que
trabalho, mas no setor de compras”.
“Também convivi com todos os 12
diretores. Em 2006, mudou o controle e entrou como presidente o Armando
(Hess de Souza). Eu vendia tecidos para a mãe dele”.
O antigo funcionário afirma acompanhar
todas as mudanças na tecnologia, na produção. “Mas não deixo a máquina
de escrever, que ainda uso. Nunca pensei em trocar por um computador.
Hoje, computador é preciso, mas não quero pegar um. Já trabalho o dia
todo e não quero me viciar nisso”.
Assim, Walter não usa e-mail. “Se eu tiver um e-mail, vou acabar olhando em casa e trabalhar à noite. Não dá”.
Férias
A aposentadoria veio em 1978. “Mas
perguntaram se eu não queria continuar a trabalhar. Eu era útil para a
empresa. Desde então, nunca pensei em sair. Se me aposentar, não vivo
mais. Meus amigos que se aposentaram não estão mais comigo”.
Walter conta que duando completou 70
anos na empresa, fez questão de fazer uma festa. “Disse no meu discurso:
‘Se Deus quiser, daqui a cinco anos estarei aqui novamente para
comemorar”.
“E comemorei. Agora, o que vier é lucro. Vou trabalhar até a saúde me ajudar”.
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